Resenha: O amor nos tempos do cólera
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Luma Grizone
2/7/20253 min read


Sem grandes alardes, a Netflix lançou em 2024 o poster da série Cem Anos de Solidão, deixando um rastro de surpresa, curiosidade e talvez revolta. A série é inspirada no livro de mesmo nome do autor colombiano Gabriel García Márquez. A revolta, por assim dizer, veio daqueles que defendem que o livro é sempre melhor que o filme, nesse caso, a série.
Aproveitando o embalo das discussões, entre quem amou e quem odiou (ainda não li/assisti nenhum dos dois) Gabriel Garcia, conhecido também pelo apelido Gabo, voltou a ser assunto e, com isso, suas demais obras também. Vários de seus livros ficaram bem famosos, como Memória de Minhas Putas Tristes, Ninguém Escreve ao Coronel e O amor nos tempos do cólera. Este último foi lançado em 1986, pouco depois de Gabo receber o Prêmio Nobel de Literatura.
Teoricamente, e digo teoricamente porque em autor a gente nunca confia, a história foi inspirada nos pais de Gabo que teriam vivido um amor proibido e com algumas turbulências. E mais ou menos assim começa O amor nos tempos do cólera, com o personagem Florentino Ariza se apaixonando por Fermina Daza. E daqui em diante, caro leitor deste texto, aviso que comentarei detalhes da história. Mas tomarei cuidado em não contar o final e, caso decida fazer isso, avisarei com antecedência.
Bom, um dos pontos interessantes sobre a escrita de Gabo é que ele só diz o nome completo dos personagens. Não me lembro de ter lido “Florentino” em nenhum momento. É Florentino Ariza, é Fermina Daza, é Juvenal Urbino, é Hildebranda Sanchez, é Tránsito Ariza. Quando você percebe, seja pelos nomes, seja pela escrita no geral, Gabo está quase te fazendo cantar, com seu texto ritmado e harmônico.
E sobre a história? Como já falado anteriormente, existe este romance que pode ser considerado o principal, mas o livro é repleto de “romances”. Seja Firmida que não se casa com Florentino, mas com Juvenal, seja com o próprio Florentino com uma vida boêmia e libertina a ponto de considerar IST’s como “marcas de guerra”.
A partir daqui, aviso, os “spoilers” ficarão mais pesados.
Acontece que passei o livro inteiro me perguntando se Fermina amou alguém além da pŕopria reputação. Sempre voltada para a opinião alheia, empertigada, muito honrada e muito dama, passou boa parte da vida preocupada com o que as pessoas poderiam falar. No final do livro continuou a ser a mesma Fermina, o que foi muito coerente com o desenvolvimento da personagem, a ponto de preferir passear em um navio que transitava em águas de defunto a enfrentar as pessoas do próprio convívio.
Florentino é um personagem curioso. Senti repulsa, senti dó, senti que ele era muito melhor que nós todos por saber o que quer e não esperar nada menos que aquilo. Mas também achei um pouco (muito) maluco stalker com problemas psicológicos que o distanciava da realidade.
Mas não se enganem. Todos tem uma profundidade que despertam em quem está lendo sentimentos contraditórios, inflamados e amor, por que não? Em alguns momentos eu nem sabia o que sentir. Ora sentia asco e ora sentia uma proximidade enorme daqueles personagens tão absolutamente humanos. Era o possível.
“Coisa bem diferente teria sido a vida para ambos se tivessem sabido a tempo que era mais fácil contornar as grandes catástrofes matrimoniais do que as misérias minúsculas de cada dia. Mas se alguma coisa haviam aprendido juntos era que a sabedoria nos chega quando já não serve para nada.” [Trecho do livro]
Mesmo que você já saiba como acaba, nada substitui a leitura. Um pouco arrastada, sim, muitas vezes. Quis desistir em alguns momentos. E graças ao podcast “Florescendo com livros” de Paula Restituti (disponível no Spotify) que não desanimei. Na contramão de leituras com vozes de robôs, Paula virou verdadeira companhia na leitura, com seu jeito não só de ler, mas de comentar, reagir, rir e se chocar. Verdadeira amiga.
Se recomendo o livro? Ardentemente. A última página foi lida na base do arrepio dos pelinhos do braço. Obrigada Gabo, por nos fazer sentir tudo isso. Que contador de histórias meus amigos(as)! Único. Viva a literatura latino-americana!
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